“Esqueça aquele tipo de aula com professor escrevendo no quadro e passando Power Point. Isso acabou. Para manter o interesse dos alunos, especialmente pré-adolescentes, é necessário ter muito mais recursos”, declarou a pedagoga Mariana Zollinger, diretora da Escola Mundo, em Itapuã.
E não apenas durante a aula. Pensar formas de atrair estudantes para conduzir o conteúdo junto com os professores nas chamadas “metodologias ativas” foram apostas de educadores durante as aulas remotas. E aí entram em cena ferramentas que, antes, eram inimigas da sala de aula: celular, internet e redes sociais.
“Os alunos já chegam em sala com o assunto que interessa a eles. É o vulcão que entrou em erupção nas Ilhas Canárias, de que forma isso pode impactar aqui em Salvador. Temos que aproveitar isso nas aulas e, também, aproveitar essa proatividade e solicitar que eles apresentem os assuntos que fazem parte do conteúdo programático. Em forma de vídeos tipo Tik Tok, apresentações no YouTube. Percebemos que o interesse deles aumenta quando eles próprios ou colegas falam”, garante.
Estratégias como essa foram necessárias até para manter as crianças matriculadas na escola durante a pandemia. O ensino particular, enquanto negócio, foi bastante afetado: segundo relatório produzido pelo Grupo Rabbit, consultoria de gestão escolar, colégios privados perderam cerca de um terço das matrículas em todo o país. Escolas de pequeno e médio porte, com até 180 alunos, foram as mais impactadas.
Escola sem fronteiras
Se, por um lado, as aulas remotas colocaram professores e escolas numa situação nova e difícil, por outro, abriu portas para chegar a alunos de outras cidades e até mesmo de outros estados. É o caso da Escola Maria Felipa, no bairro da Federação, que agora tem alunos de Rio Grande do Norte, Sergipe, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
“Nossa escola assume uma pauta antiopressiva muito forte, focada na ancestralidade e no protagonismo feminino. As famílias que nos procuram são famílias que se associam a esse projeto pedagógico. Como antes da pandemia já tínhamos demanda de filiais da Maria Felipa em outras cidades e estados, abrimos a opção para aulas à distância para alunos de fora de Salvador. Hoje esses cinco alunos fazem aula remota junto com os que optaram por não retornar às atividades presenciais”, contou Barbara Carine, idealizadora da escola.
Além disso, Barbara percebeu que o projeto pedagógico da Maria Felipa poderia ser repassado a outros educadores e pessoas interessadas, e investiu nesse setor. Em setembro, a escola ofereceu um curso, também de forma remota, focado na educação afro-brasileira.
“Antes tínhamos muito debate sobre a efetividade da educação à distância para crianças, especialmente as pequenas. E a pandemia colocou isso à prova. A gente percebeu que, no ensino remoto, tivemos prejuízos, crianças de 3 anos que não desenvolveram oralidade, e um traço dessa geração deve ser o da falta de relações comunitárias. Mas conseguimos encurtar distâncias, pessoas que não conheciam a Maria Felipa conheceram, crianças que não podiam estudar e estudaram. Conseguimos colocar 220 pessoas numa especialização numa sala do Google Meet. São os aspectos positivos dessa situação”.
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